terça-feira, 25 de novembro de 2014

RESPEITO, LUTA E COMEMORAÇÃO MARCAM O DIA DAS BAIANAS

Baianas em comemoração no Pelourinho. (Foto: Raul Spinassé)

Carregar o título de baiana de acarajé significa exercer um ofício que exige dedicação, coragem e muito amor, é com essa determinação que Mônica Ferreira Maia, de 51 anos, levanta todo dia às 4h para preparar os quitutes que leva para vender na região de Canta Galo, na cidade baixa. Contudo ontem a preparação e destino foram diferentes, caprichando nas joias e adereços Mônica saiu de casa, em Fazenda Coutos, para se unir a outras 200 outras baianas em comemoração ao dia das mulheres-símbolo da Bahia.
“Sou baiana há 25 anos, e me orgulho demais do que faço, tenho um carinho enorme por essa profissão. Lá em casa foi um trabalho que herdei de minha mãe e por isso é ainda mais importante manter a tradição”, afirmou a baiana. “Hoje eu quero desejar saúde e muita paz para todas as minhas colegas e reforçar que Dia da Baiana é o ano inteiro. Espero que todas as nossas conquistas aumentem ainda mais para o ano que vem”, comentou.
A comemoração do Dia das Baianas foi celebrada na manhã de ontem, com uma tradicional missa, na Igreja do Rosário dos Pretos, no Pelourinho. O evento marcado por muita danças, cânticos e o ofertório, não teve a anual caminhada até a Praça da Cruz Caída, palco da confraternização. Mas o fato não abalou o astral das baianas que festejaram com muita empolgação e também refletiram a importância da data.
Além das homenageadas, soteropolitanos e turistas foram à igreja celebrar a data comemorativa e apreciar o espetáculo promovido pelas mulheres à caráter. O Aposentado, Antônio Reis, que admira e acompanha os festejos há mais de dez anos, saiu cedo do bairro de Rio Sena, no Subúrbio Ferroviário para parabenizar as baianas. “Eu acredito que elas representam um patrimônio muito importante para a nossa cidade e nosso estado. Venho aqui todo ano pois acredito que elas deve ser valorizadas pela sociedade, muito mais do que são”, falou o aposentado.
Morador de Curitiba no Paraná, o administrador, Fernando Geller, de 43 anos aproveitou o passeio turístico pelo Pelourinho e parou para conferir a festa e prestigiar as baianas. “Eu nunca tinha visto uma festa assim, é muito bonito, um verdadeiro tesouro da cultura do nosso país. Espero que essa tradição não acabe nunca, pois não dá para pensar na Bahia e não lembrar das baianas”, afirmou.
E os turistas não foram as únicas pessoas de fora da Cidade à comparecerem à missa, baianas de várias partes do estado e até do país vieram celebrar a data em Salvador, como o caso da “baiana paulista” Tereza Lacerda que há seis anos viaja para a Bahia no dia da sua profissão. “É uma festa linda cheia de paz e alegria, achei triste por não ter a festa esse ano, mas o mais importante são as bênçãos e a iluminação para todas nós”, falou.
De acordo com a coordenador nacional das baianas Rita Santas, a festa na Cruz Caída que esse ano não teria acontecido por falta de apoio financeiro do governo, que nos anos anteriores patrocinou o evento. “Esse ano eles disseram que o governador baixou um decreto proibindo o custeio de qualquer novo evento que já não estivesse previsto no orçamento inicial”, relatou a coordenadora das baianas. “Mas isso não tira nossa alegria, esse é o nosso dia e vamos comemorar unidas independente de qualquer coisa”, afirmou.
No aspecto reflexão, respeito foi a principal demanda da coordenadora nacional das Baianas, Rita Santos. “Hoje nós temos que buscar união e respeito, acima de tudo respeitar umas às outras porquê lutamos o ano inteiro por algo que vai além do sustento próprio, algo que amamos e nos orgulhamos”, explicou Rita. “Por isso a importância desse dia, além da comemoração, é uma oportunidade de conversarmos e buscarmos corrigir os problemas de agora já pensando no ano que vem”, disse.
Atualmente, uma das principais reivindicações do grupo é o direito de vender os tradicionais quitutes nas praias da cidade, possibilidade que foi limitada através da determinação da Secretaria Municipal de Ordem Pública no passado. A decisão do órgão municipal estabelece que nem o tabuleiro, nem o tacho de azeite podem dividir espaço com os banhistas.
“As baianas dão a Salvador um aroma único, no mundo, todos os dias no final da tarde, mas sobretudo nas praias, o cheiro do azeite era algo inconfundível no litoral da nossa cidade, retira isso foi acabar com uma tradição”, afirmou o Sociólogo Ailton Ferreria que foi à celebração homenagear as baianas. “Essa é apenas mais uma de tantas lutas travadas por essas mulheres ao longo da história”, comentou.
Depois do ofertário, e das bênçãos distribuídas pelo padre Lázaro Muniz, as homenageadas do dia foram às ruas brilhar em festa.
Por: Victor Lahiri

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